JORNAL DA LAGOA – Bacia da Lagoa da Conceição – 1a. quinzena de setembro de 2009
Internacional
Estrangeiros da Lagoa, parte 1
Reportagem especial mostra como vivem na Lagoa
NÃO QUERO MAIS VOLTAR
Axel Westie, 46 anos, alemão, da cidade de Oldenburgo, cresceu à beira do mar na Alemanha do Norte observando o movimento das marés. Mora há cinco anos no Brasil e acabou de visitar a Europa, chegando ao Brasil há 3 meses. A sua esposa, Gundula Westie, também é alemã, mas cresceu no Basil e eles se conheceram na Europa. Ele estuda português com a professora Celisa Canto, na Lagoa da Conceição.
Para Axel, a língua portuguesa é muito complicada, é preciso um professor adequado e com experiência com estrangeiros. A professora Celisa Canto morou cinco anos na Dinamarca e ela sabe o que é ser estrangeiro. Axel mora no centro antigo de Sõ José e já fez um curso intensivo de português por dois meses, estudando todos os dias, por três horas. Axel morou por dois anos em Curitiba e há três anos está em Florianópolis.
Uma professora em Curitiba, que falava português e alemão, pôde ensinar em um curso intensivo por um ano as primeiras palavras de Axel em português. “Com 40 anos é mais complicado aprender do que quando se tem 20. Aprendi muita coisa no dia-a-dia”, diz Axel.
Axel é pastor da Igreja Evangélica Livre da Alemanha. Esta igreja existe em Blumenau, com muitas sedes.
Em Florianópolis e São José, são as primeiras a serem fundadas e este foi o motivo que os trouxe ao Brasil.
Contrastes Sociais
No Brasil, as desigualdades sociais são muito mais marcantes, apesar do trabalho social do País ter melhorado muito no último governo. Axel lembra que no Centro de Florianópolis viu um carro Lamburguine passar ao mesmo tempo em que observava um morador de rua, catador de papel, vasculhar o lixo. Essa diferença é chocante e não existe na Europa.
Na Alemanha também existem pobres e sem teto, mas ao chegar o inverno, morrem de frio se continuarem na rua. Todos os anos morrem muitos desassistidos por causa da neve. Na Europa, há um trabalho social respeitável e, às vezes, há falhas, não abrangendo toda a população necessitada.
O europeu que vem hoje ao Brasil busca uma vida mais satisfatória. Muitas casas que estão na trilha da Costa da Lagoa são de estrangeiros de toda a Europa. Eles buscam o que é simples e a harmonia com a natureça.
Diferenças culturais pesam na escolha
Uma característica que Axel ressalta é a distância que os alemães mantêm uns dos outros, aqui no Brasil, o povo é mais próximo, os relacionamentos são mais importantes e as pessoas se envolvem com mais facilidade. Na Alemanha, o trabalho é o mais importante. Outro ponto de destaque é que quem não fala alemão acha a língua dura e fria, sendo muito diferente para outras culturas.
O comportamento do brasileiro é muito acolhedor, com abraços fraternos e de amizade. Axel lembra que foi convidado muitas vezes para ir à casa de seus amigos. Quando chegou ao Brasil, não falava nada de português, mas mesmo assim, conversava com as pessoas por gestos e sinais. O brasileiro não tem medo de estrangeiros, o europeu tem medo de quem vem de fora e leva anos para se fazer uma amizade de confiança.
Axel não quer mais voltar para a Alemanha, mesmo tendo amigos e parentes por lá. Garante que só vai à Europa para visitar. Aqui no Brasil, basta muito pouco para viver, aqui não precisa de muito conforto. Na Alemanha, no inverno, as pessoas são obrigadas a ficar em casa mais tempo por causa do frio e da neve.
Aqui no Brasil, trabalha-se muitas horas por dia. O trabalho na Alemanha é mais duro, competitivo. No Brasil, é possível combinar trabalho e lazer. Muitos vão à Europa para fazer dinheiro e se sujeitam aos trabalhos mais insalubres, mesmo que tenham estudo e formação, como lavar banheiros e pratos.
Na Europa, não se tem acesso às pessoas. A professora Celisa Canto lembra que durante cinco anos na Dinamarca, somente teve duas amigas. Se for visitar a casa de um conhecido e quiser levar um convidado, somente pode ser avisar com antecedência. Também é diferente o clima, a paisagem e a natureza. Aqui há muito sol e isso é muito bom. Por se ter pouco sol no norte da Alemanha, o povo local é taxado de triste ou melancólico.
Aprendizado – Celisa Canto ensina português ao alemão Axel Westie e diz, com dedicação o aprendizado pode ser rápido.